Call Girl lança livro que conta suas experiências com a alta sociedade na periferia de São Paulo
Homens com Rolexes no pulso acompanhados de mulheres de bijuteria e salto alto – e nada mais: esse era o código de vestimenta em uma festa de sexo privada para casais da alta sociedade em Ribeirão Preto (SP).
A festa aconteceu no ano passado em uma luxuosa fazenda na mesma Garotas de Programa área onde os casais moram, segundo Lola Benvenutti, codinome da garota de programa Gabriela Natalia Silva, de 22 anos.
Os acontecimentos daquela noite estão todos detalhados em seu livro, “O Prazer é Todo Nosso” (editora MosArte), que será lançado em agosto.
Há menos de dois anos, a acompanhante era conhecida por divulgar os detalhes de seus encontros com clientes em seu blog autodenominado. Ao mesmo tempo, cursava sua última turma de Letras e Letras na UFSCar (Universidade Federal de São Carlos).
Sua história lembra aos brasileiros a ex-garota de programa Raquel Pacheco, conhecida como Bruna Surfistinha, que também contou histórias de seus encontros em um blog, que rendeu um livro e um longa-metragem.
“Era tudo muito sofisticado. Eu já tinha participado de festas swinger, mas eram mais modestas. Em Ribeirão, era toda ostentação”, conta.
Eram 15 casais – médicos e suas esposas – em uma fazenda com casa de campo e vários quartos. De acordo com Lola, a cena a lembrou do filme de Stanley Kubrick “Eyes Wide Shut” (1999).
Os nomes de todos os “personagens” são mantidos em segredo no livro, que levou um ano para ser escrito e ficar pronto para publicação.
Nele, além das histórias de encontros com clientes e dicas de como apimentar um relacionamento, o autor defende a ideia de liberdade sexual. “Faço o que faço porque gosto, porque sou mulher, porque sou humana e tenho o direito de traçar meu próprio caminho.
Por isso o tom do livro é leve e suas passagens divertidas, diz ela. “O livro é nesse sentido: ser livre para curtir a vida, um parceiro, sozinho.”
Foi o caminho do prazer que Lola diz que a levou a descobrir o amor por si mesma. Chamada de “patinho feio” na escola, ela decidiu se amar.
A primeira vez que ela fez sexo por dinheiro, diz Lola, foi aos 17 anos, mas ela não continuou com isso. Houve repercussão em sua cidade de Pirassununga (SP).
“Sempre tive curiosidade em saber como funciona [a prostituição]”, diz ela. “Quando eu era criança, tirei as roupas de Ken e Barbie, coloquei-os um em cima do outro e simulei que eles estavam fazendo sexo.”
NA PELE
Lola diz que planeja publicar outros livros. Ela tem passagens literárias tatuadas no corpo.
Nas costas, um verso de Manuel Bandeira: “dizendo repetidas vezes que fazia sol lá fora”. No pulso esquerdo, uma frase de João Guimarães Rosa: “Digo: a realidade não está no fim nem no começo. Só se mostra no meio da travessia”.
Tem projetos para workshops e palestras. Ela não pensa em namorar. Sua descrença na monogamia, diz ela, é uma das razões para escolher sua profissão atual.
Ao posar para a Folha, ela tentou manter uma imagem de glamour, longe do estereótipo de garota de programa. “Minha ideia não é aparecer na TV com a bunda de fora, ter 15 minutos de fama e dizer que namorei um jogador de futebol”, diz ela.
Sem revelar números, ela diz que é possível ganhar dinheiro na profissão “se você souber ser administrada”.
Ela diz que é realista e sabe que sua carreira será curta, principalmente porque “a beleza se desvanece e é muito desgastante estar sempre bonita”.
Ainda assim, ela jura que não se arrepende de ter escolhido a atual profissão.
“Nunca fui tão feliz como agora, porque sou quem realmente sou. Não há alegria maior do que não ter que se enganar”, diz ela.